EFEITOS FARMACOLÓGICOS E USO TERAPÊUTICO
A oxicodona é um analgésico opióide semi-sintético utilizado para o alívio da dor moderada a severa, aguda ou crónica, especialmente a dor pós-operatória e a dor associada ao cancro. Apesar de usada apenas pelas suas propriedades analgésicas, a oxicodona apresenta outros efeitos, tais como a euforia, responsável pelo uso abusivo desta droga.
MECANISMO DE ACÇÃO
Os efeitos analgésicos dos agonistas opióides, incluindo a oxicodona, são mediados principalmente pela inibição da transmissão do impulso nociceptivo no corno dorsal da espinal medula e por activação das vias inibitórias descendentes (figura 2).
Figura 2 - Esquema ilustrativo do mecanismo de acção da oxicodona [4]
Estes receptores pertencem à super-família dos receptores da proteína G e incluem:
- receptor µ presente em altas quantidades no SNC; também encontrado a nível espinal e supra-espinal;
- receptor δ;
- receptor κ.
Quando um ligando se liga ao domínio extracelular do receptor, este sofre uma alteração na sua conformação e activa a proteína G, que por sua vez vai activar proteínas efectoras. Isto conduz a uma diminuição da concentração de AMP cíclico (cAMP) e hiperpolarização da célula por aumento do efluxo de K+. Uma diminuição da entrada de Ca2+ leva à redução da libertação de neurotransmissores excitatórios e da transmissão da dor no SNC. [5][6]
FARMACOCINÉTICA
O metabolismo da oxicodona pode ocorrer por:
- N-desmetilação em C17 pela CYP3A4/5, originando noroxicodona - principal via metabólica oxidativa. Este metabolito é encontrado em maior percentagem na urina quando a administração é feita por via oral, o que sugere que o efeito de 1ª passagem ocorre por este mecanismo;
- O-desmetilação pela CYP2D6, originando oximorfona, que é eliminada sob a forma conjugada na urina. A noroximorfona é obtida principalmente pela via CYP2D6.
A oxicodona é extensivamente metabolizada no fígado e apenas 8-14% é excretada na urina, intacta ou na forma conjugada. A sua biodisponibilidade oral é superior à da morfina. [5][7]
Figura 3 - Esquema ilustrativo do metabolismo da oxicodona [8]
FARMACODINÂMICA
A oxicodona é significativamente mais selectiva para o receptor µ. Quando comparada com a morfina, a sua afinidade é 5-40 vezes menor. O efeito analgésico da oxicodona pode ser inibido por antagonistas específicos do receptor µ. Existe, contudo, alguma controvérsia pois estudos in vivo sugerem que a oxicodona interage maioritariamente com o receptor κ. A tolerância ao efeito analgésico deste fármaco é mediada por receptores κ quando a administração é intracerebroventricular e por receptores µ quando é intravenosa. O principal metabolito da oxicodona, a noroxicodona, apresenta menor afinidade para o receptor µ, contrariamente aos outros dois metabolitos, a oximorfona e a noroximorfona, que apresentam 2-3 vezes mais afinidade para o mesmo receptor. Porém, no caso da oximorfona, estudos revelam que esta tem menor capacidade analgésica. Isto pode ser devido à quantidade formada, que é muito reduzida, não sendo capaz de provocar qualquer efeito (um bloqueio da actividade de CYP2D6 não altera a actividade da oxicodona). Tudo isto sugere que a noroximorfona pode ser o metabolito activo da oxicodona. [7][9][10]
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